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EU FUI !

Eu fui, apesar dos posts no facebook, apesar do desacordo público, eu fui à manifestação contra a corrupção organizada pelo movimento Vem Pra Rua nesse domingo (13). Mais do que a trabalho fui em busca de experiência, tanto como jornalista como pessoa politicamente alfabetizada.


Tudo que eu posso dizer é que eu nunca vi tanta gente branca aglomerada. Das estações do metrô situadas em bairros periféricos, vazias, até as situadas em bairros nobres, lotadas, o dia foi um grande mar de gente branca, loira, dos olhos claros, segurando cartazes e vociferando absurdos, e para não dizer que estou sendo sensacionalista, vi vestido de verde e amarelo um rapaz sendo puxado por sua namorada branca.

Eu fui, e os policiais se recusaram a falar com a imprensa porque segundo eles “as informações são desconectadas, mas só a central pode dar declarações”. As pessoas, apesar de ficarem agitadas e cantarem mais alto ao verem a câmera, perguntam “de onde vocês são?”, no momento em que sugerimos uma entrevista. Surpresos pela grande quantidade de idosos presentes em uma manifestação majoritariamente convocada pela internet, perguntamos a Maria Ita, uma manifestante de setenta e dois anos, como ela ficou sabendo da passeata e a resposta foi clara e sem rodeios “pela TV, oras, quem não ficou sabendo?” o que é um retrato bem triste de um país que foi dividido até mesmo nos veículos que supostamente deveriam ser imparciais.


Eu fui e levei os meus poucos anos de vida e uma experiência nula em manifestações, mas mesmo assim eu só posso chutar que o clima que senti não fora o mesmo partilhado nas diretas já, ou no movimento contra Collor, o que eu senti vai muito além do clamor popular por mudanças, o que eu senti foi uma direita irada, uma direita com sede de sangue, uma direita que espanca bonecos, que ignora os mendigos, que é enganada e gosta disso, que grita “pisa na cabeça da jararaca” como carinhosamente eles apelidaram Lula.


Eu fui e sei que o clima que senti é fruto de uma liderança que trabalha com mentiras, que reforça os atos de uns e fecha os olhos aos atos de outros, uma mensagem clara que diz “no Brasil a corrupção é bela, a não ser que você resolva virar as costas aos empresários”, uma liderança que usa de massa de manobra a indignação de um povo, a dor de seus privilégios cortados e seu desconhecimento total da história.


“Nessa manifestação é mais fácil de trabalhar” disse o vendedor de cachorros quentes “as pessoas aqui são mais cultas, são mais família”. Me restou olhar em volta e respirar fundo, essa foi a prova que no Brasil o dinheiro e a postura classe média alta de ser é mais símbolo de erudição do que a quantidade de livros que você leu.


Eu fui, e depois de ver o que vi é difícil acreditar no País que vivo, sento-me em frente ao computador, vejo as fotos do Facebook e mensuro um problema muito maior do que presenciei com meus olhos, é penoso estar prestes a desistir, me resta só esperar que Cazuza estivesse certo, que mesmo que as nossas piscinas estejam cheias de ratos, e apesar de dizerem que somos só ladrões, bichas e maconheiros, apesar das ideias já não corresponderem aos fatos, resta-nos esperar que o tempo não pare.



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